Olá, falar da compra e venda de imóveis e o direito de propriedade requer uma série de conhecimentos importantes sejam eles jurídicos, mercadológicos, arquitetônicos, sociológicos, dentre outros tantos.
Dos quais quero frisar hoje o conhecimento histórico, que muitas vezes relegamos, mas é de suma importância para que, já no presente possamos ter a oportunidade de não cometer os erros do passado e podermos sonhar com um futuro verdadeiramente melhor, se aprendermos com as lições deixadas por quem veio antes de nós e já nos deixou o seu legado.
Venha comigo nessa viagem e vamos navegar um pouco pelos mares do descobrimento do Brasil e como o direito de propriedade impacta na nossa formação econômica desde o princípio.
O Direito de Propriedade: Terra a vista!!
Ao abordar o tema desse post lembro que o livro “Império” do historiador Niall Ferguson trás o direito de propriedade como um dos “aplicativos” que revolucionaram a história da formação do que chamamos de prosperidade, e logicamente aqui no Brasil não foi diferente.
A história do nosso Brasil, nos foi contada de forma quase sempre tendenciosa e muitas vezes incertas, mas de muitas coisas nós sabemos.
Por exemplo, parece de extremo óbvio, mas quando por aqui chegaram os português, os índios já estavam nas nossas terras, só ainda não sabemos ao certo exatamente a quanto tempo, ok?
Então, no tempo em que foi baixado um tratado, chamado de Tratado de Tordesilhas, que praticamente dividia o mundo em possessões de Portugueses e Espanhóis, caiu a sorte as nossas terras para os portugueses, e logicamente os índios não tiveram vez.
Por seu comportamento selvagem, foram considerados, ao máximo, usufrutuários de terras que a partir de 1500, pertenceriam à Portugal.
Então, por meio do escambo, as terras começaram por serem exploradas, trocando-se artefatos de metalurgia, como machados por exemplo, dos quais os índios jamais tinham visto e conhecido, por toras de madeira, o famoso pau-brasil.
Daí começou o processo de colonização da terra, aculturação dos índios, e também os elementos do direito de propriedade e a própria formação econômica dessas terras que hoje denominamos Brasil.
O Direito de Propriedade com a Sesmarias e Capitanias
Com a tentativa de auferir recursos advindos de impostos e riquezas extraídas das terras recém descobertas, mas sempre com a premissa de nelas pouco ou mesmo nada investir, passaram aportar por aqui distintos senhores com títulos emitidos pela coroa portuguesa, que buscou instituir vilas, com o adventos das sesmarias e posteriormente das capitanias hereditárias.
Esses títulos consistiam numa carta de doação, para que o colonizador usasse e gozasse da terra, logicamente lembrando do quinto pertencente à coroa, e um foral, que seria a forma de aplicação da lei.
O engraçado, é perceber que tais papéis teriam que valer numa sociedade recém formada pela quase totalidade de analfabetos, estabelecendo uma relação quase que apenas entre o colonizador e a coroa, já que com os nativos, a linguagem que não tardaria a se manifestar seria a da violência e a da abusividade, como percebemos na quase totalidade dos registros históricos.
E por falar neles, foi o livro do Jorge Caldeira, intitulado História da Riqueza do Brasil, o qual recomendo a leitura, que me motivou a explorar esse conteúdo aqui no blog, pois a partir duma nova abordagem histórica, agora baseada em dados tratados a partir de critérios econométricos, tem-se chegado a novas conclusões, que tornam mais profundas as conclusões, que podemos chegar quanto ao direito de propriedade e a formação da economia brasileira.
Crescimento da Economia com suas regras..
Um exemplo, é que sabemos que vivemos um pujante ciclo do ouro, que enriqueceu não apenas Portugal, mas o próprio continente europeu, com recursos daqui extraídos, mas o que não sabíamos até então, é que já no século XVII, quando são narrados tais fatos, em pleno declínio dos sonhos dourados, a economia local crescia assustadoramente, formada pelo nosso mercado interno, feito com regras próprias.
De um povo que traçava regras de sobrevivência das quais os portugueses reconheciam como “regras de conveniência”, um povo que aprendia explorar o seu território e o potencial do seu comércio, relações comerciais como o singular “fiado”, que por aqui era reconhecido como o terror dos portugueses, que diziam que por aqui sequer existia comércio sustentável, devido a tais práxis, como vemos no relato abaixo extraído do citado livro:
“Esses homens, ainda que tenham fundos e sejam honrados e verdadeiros, não posso considerar suas casas como casas de comércio porque eles ignoram o que é essa profissão e nem conhecem os livros que lhe são necessários nem sabem regular a sua escrituração.”
Esse é um relato dum português que observa, atônito, um rico comerciante local, que trabalha de acordo com as regras de um povo miscigenado, e que estava escrevendo uma história que ainda está sendo escrita.
Já que desde tais tempos, os documentos de compra e venda da época, agora analisados a partir duma perspectiva econométrica, aponta que 85% das propriedades negociadas estavam entre 100 a 600 hectares de área, o que era até então considerada “pequena propriedade”, e por isso já apontava para um povo que decidia a partir do direito de propriedade formar a economia da sua terra.
O mercado imobiliário
Sou corretor de imóveis, e engenheiro civil, atuante da engenharia legal, e por isso friso a importância de estudarmos cada vez mais o tema da regularização fundiária, da qual foi sancionada o importante marco regulatório, na forma da Lei 13.465/17, que abordaremos aqui nesse blog, que agora lhe convido a seguir.
Por aqui, abordaremos, cada vez, mais, um mercado imobiliário que tem o seu valor, mais sobretudo uma história que devemos aprender a primeiro conhecer, e aí sim valorizar, como de um solo que foi conquistado a partir de sangue, suor e lágrimas.
Até a próxima!
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